Novas formas de aferição do desenvolvimento

Tradicionalmente, a forma mais usada para avaliar o desenvolvimento de um país é através do PIB (Produto Interno Bruto). Desde a sua criação, o PIB tem sido questionado quanto a sua efetividade na leitura do que seja a riqueza de uma nação, e, mais recentemente, foi questionado por economistas, entre eles ganhadores do Prêmio Nobel, como Joseph Stiglitz e Amartya Sen, e um dos próprios criadores do indicador, Simon Kuznets.

Em 2004, iniciou-se um movimento após um encontro internacional de estatísticos organizado pela OCDE, com as bases para o Beyound GDP (Além do PIB). Depois de diversas conferências e fóruns, como o Fórum Medindo Bem-Estar e Progresso das Sociedades, em Milão (junho de 2006), e a Conferência da UE Além do PIB: Medindo Progresso, Verdadeira Riqueza e o Bem-Estar, em Bruxelas (novembro de 2007), o mundo começou a questionar ainda mais e movimentar-se para encontrar novas formas de aferição da sustentabilidade e do desenvolvimento.

Em 2008, foi criada uma comissão liderada pelo então presidente francês, Nicolas Sarkozy, para criticar o uso do indicador PIB para avaliar não somente desempenho econômico como todo o desenvolvimento, englobando progresso social, proteção ambiental e alterações climáticas. A comissão concluiu que o PIB é insuficiente para abarcar fenômenos fundamentais para a qualidade de vida. Por exemplo, os congestionamentos de trânsito podem fazer o PIB aumentar em razão do maior consumo de gasolina, mas não aumentam a qualidade de vida; as grandes catástrofes e desastres ambientais também são positivos para o crescimento do PIB, porque a reconstrução das regiões afetadas por tais eventos extremos movimenta o setor de serviços e, consequentemente, gera empregos.

A comissão trabalha em três frentes: uma delas busca atualizar o PIB padrão, de modo que a medida se torne mais abrangente e mais relevante para os formuladores de políticas públicas; outra tenta incorporar novas medidas de sustentabilidade ambiental aos dados e, assim, mensurar o impacto da economia sobre os ecossistemas; a terceira trabalha na criação de novos indicadores para avaliar qualidade de vida e bem-estar. Ainda assim, pesquisas apontam que o PIB possui uma alta correlação com outros indicadores de desenvolvimento social, como mortalidade infantil.

A Agenda 21, em seu Capítulo 40, trata de indicadores de desenvolvimento:

Os indicadores comumente utilizados, como o Produto Nacional Bruto (PNB) ou as medições das correntes individuais de contaminação ou de recursos, não dão indicações precisas de sustentabilidade. Os métodos de avaliação da interação entre diversos parâmetros setoriais do meio ambiente e o desenvolvimento são imperfeitos ou se aplicam deficientemente. É preciso elaborar indicadores do desenvolvimento sustentável que sirvam de base sólida para adotar decisões em todos os níveis e que contribuam para uma sustentabilidade autorregulada dos sistemas integrados do meio ambiente e do desenvolvimento. 12

Segundo o professor e pesquisador da USP, José Eli da Veiga, a verdadeira inovação será desbancar o PIB como medida de crescimento econômico. Portanto, outros indicadores foram desenvolvidos com o aumento das críticas ao PIB.

Um dos indicadores desenvolvidos foi o FIB – felicidade interna bruta. Esse indicador foi desenvolvido no Butão, em 1972, pelo então rei Butanês Jigme Singya Wang-Chuck. Baseia-se na premissa de que o objetivo principal de uma sociedade seria a integração do desenvolvimento material com o psicológico, cultural e espiritual. São nove as dimensões do indicador: bem-estar psicológico, saúde, uso equilibrado do tempo, vitalidade comunitária, educação, cultura, resiliência ecológica, governança e padrão de vida. O FIB está sendo cada vez mais usado por organizações e países, principalmente após o apoio do PNUD. Muitos questionam se a felicidade deveria ou não ser indicador de desenvolvimento. Se, por um lado, é o objetivo de muitas gestões, por outro é influenciada diretamente pela tradição das pessoas e até mesmo por uma cultura em que a felicidade é quase obrigatória.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), conforme visto, é um dos indicadores criados pela Organização das Nações Unidas que foca nas questões sociais do desenvolvimento, principalmente com o objetivo de tirar o foco das análises sobre desenvolvimento das contas nacionais e centrar-se nas pessoas. O índice leva em conta três dimensões: saúde e longevidade, conhecimento e educação, e padrão de vida de uma população. São várias as críticas ao IDH, como o fato de se basear em médias nacionais, o que oculta as assimetrias de distribuição, mas sua importância no subsídio de políticas públicas continua crescente. Uma das críticas mais comuns é a falta de critérios ambientais. Em 2010, um pesquisador da Mongólia recalculou o índice adicionando emissões de carbono (IDH + emissões de carbono).

No mundo corporativo, o mesmo movimento está acontecendo, em prol da transparência e da medição do sucesso e da sustentabilidade não somente pelo balanço fiscal. Tem ganhado força a publicação de relatórios de desempenho unificado. O movimento é para que as informações financeiras, ambientais e sociais sejam apresentadas em um mesmo documento, de modo que reflita melhor a realidade e permita uma apuração mais precisa e completa do valor das corporações. A mudança da visão cobra das organizações a mesma prática que é cobrada dos países: o desenvolvimento das pessoas e do meio ambiente, não somente da economia.