Intensificação da articulação entre governo, sociedade e empresas

Todas as ações e decisões tomadas atualmente, num cenário de globalização e interdependência, precisam da articulação entre governo, sociedade e empresas. Essa articulação está cada vez maior, uma vez que todos os atores reconhecem a importância dos demais para o desenvolvimento das nações como um todo. O multilateralismo tem sido crítico, principalmente nas questões da sustentabilidade, com crescente participação da sociedade civil e das empresas.

Em 1992, o papel e a contribuição do setor privado ainda eram pouco conhecidos e aceitos; hoje, o setor privado é visto como um parceiro estruturante na construção da sustentabilidade, como motor da criação e crescimento dos mercados responsáveis, inclusivos. Como já mostrado, o peso das empresas na economia mundial é enorme, e não por acaso elas são conclamadas pela ONU a estabelecerem o Pacto Global, um audacioso projeto de concertação mundial.

Alguns autores dizem que, numa tendência de estado mínimo e de autorregulação de mercado, as ONGs foram as grandes articuladoras entre os setores público e privado, principalmente nas discussões sobre responsabilidade social. O processo de privatização das últimas décadas deixa nas mãos do setor privado a produção de bens essenciais para a sociedade. Os demais setores organizados juntamente com o privado são chamados a se articularem no sentido de delinear os projetos nacionais, que atendam as demandas de legitimação e condições de vida das populações.

As parcerias público-privadas têm grande responsabilidade enquanto promotores de maior atração de recursos e dentro de uma estrutura adequada de incentivos e tributação. Um dos exemplos dessa nova lógica é a Parceria Social Público-Privada – a PSPP, que surgiu em um Decreto de lei, mudando o papel de empresas da aplicação de recursos em projetos sociais para a integração com poder público e sociedade civil organizada, em favor do desenvolvimento territorial sustentável. Uma das ações da parceria é a melhoria da infraestrutura urbana e habitacional. Algumas ações também foram tomadas por empresa, através da interação com a sociedade civil, para ampliação dos negócios de forma ecológica e socialmente responsável. Um consórcio de ONGs na América Latina juntamente com um grupo de empresários constituiu um complexo produtivo agrícola de larga escala e com tecnologia de ponta.

Os campos de ação trabalhistas também estão tendo uma grande articulação entre diferentes atores da sociedade, tanto ONGs e organizações de classe quando as empresas e governos estão diretamente envolvidas em negociações de direitos, deveres e benefícios, que resultam em questões de responsabilidade social. A sociedade civil organizada também tem aumentado sua cobrança sobre as empresas e o governo, o que pode ser evidenciado através do código de defesa do consumidor, uma das ferramentas de exigência de direitos, negociações e padrões de conduta.

Segundo o Secretário Geral da ONU em seu relatório sobre sustentabilidade global, de 2012, a escala de investimentos, inovação, desenvolvimento tecnológico e criação de empregos necessários para o desenvolvimento sustentável e para a erradicação da pobreza está além do alcance do setor público. O poder da economia deve ser usado para criar desenvolvimento inclusivo e sustentável, criando valor além do conceito de riqueza. Logo, mercados, empresas e o empreendedorismo serão drivers para as decisões e para as mudanças.

O documento “Visão 2050: A nova agenda para as empresas”, já mencionado, foi produzido por 29 empresas do mundo, coordenadas pelo World Business Council for Sustainable Development. Apresenta objetivos, metas e previsões para as próximas décadas, em termos de mudanças sociais, ambientais e econômicas, as quais as empresas e organizações deverão causar e com as quais se adaptar. Ao longo do documento, várias medidas apontam que tanto as soluções quanto as mitigações dos impactos e dos riscos dependem da articulação entre governo, sociedade e empresas. A própria agenda indica que deve ser usada não só pelas empresas, mas também pela sociedade civil organizada e pelo governo para traçar políticas públicas para os próximos anos. Como esclarecido no próprio texto,

este estudo é uma tentativa de auxiliar líderes governamentais, empresariais e de outros segmentos da sociedade a não cometerem os mesmos erros do passado, como tomar decisões de maneira unilateral, com efeitos indesejáveis para as pessoas, para o meio ambiente e para o planeta Terra.(WBCSD, 2011, p. iii).

Para que as articulações aconteçam, criar e cultivar fóruns de participação multilaterais é fundamental. Cada vez mais deveremos aprender a nos tornar poliglotas setoriais, aprender a nos misturar e construir pontes de intenções.