Cidades sustentáveis

Um dos assuntos de fronteira nas discussões sobre sustentabilidade é o de cidades sustentáveis. Sabendo-se que grande parte da população mundial é urbana e o processo de urbanização é crescente, tornar os espaços que as pessoas dividem e se aglomeram sustentáveis é fundamental para se pensar na manutenção da qualidade de vida e da qualidade ambiental.

O assunto de sustentabilidade urbana é tão amplo que a biodiversidade deve ser levada em conta. No encontro da Convenção para a Diversidade Biológica em Nagoya (COP10 – 2010), um dos temas tratados foi “Iniciativa Cidade e Biodiversidade”, contando com a participação de 200 prefeitos de todo o mundo, para discutir um plano de ação conjunto para cidades e biodiversidade e trabalhar juntos num Índice de Biodiversidade Urbana. Diversas pesquisas e movimentos, como os mapas de uso dos solos produzidos por ONGs e pelos governos, ajudam a construir ambientes urbanos em consonância com a conservação da biodiversidade, conforme Lara Hale, do blog Sustainablecities.

Um dos objetivos da Rio+20 foi a discussão sobre cidades sustentáveis. As cidades, por serem concentrações de energia humana e de criatividade, devem ser não somente a fonte de problemas como também o laboratório para as soluções. Diversos atores, alguns não acostumados a lidar com sustentabilidade, como urbanistas, engenheiros de transporte, investidores em imóveis, arquitetos, tem papéis fundamentais na criação de uma condição mais sustentável. A construção civil, por exemplo, responde a aproximadamente 15% da emissão global de gases de efeito estufa e a 25% se considerarmos transporte e fabricação de materiais.

A comissão nacional da Rio+20 ressaltou que, no contexto do desenvolvimento sustentável, é fundamental “a definição do papel das cidades, forma contemporânea predominante de assentamento humano que concentra, ao mesmo tempo, os centros de comando político e econômico, bem como os polos de irradiação dos padrões de consumo, do conhecimento e das inovações tecnológicas”(MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – MMA, 2011, p.14-15). As políticas ressaltadas e que devem ser discutidas nos próximos anos, com foco em questões ambientais como resíduos sólidos, áreas de risco e mudanças climáticas, são o desenho de políticas voltadas ao planejamento integrado; o fomento à construção sustentável, à eficiência energética e à redução do consumo de água nos edifícios, com apoio à pesquisa e democratização do acesso a novas tecnologias bem como à implementação de tecnologias modernas com vantagens ambientais e a (re)qualificação progressiva dos empreendimentos habitacionais de interesse social, considerando as três dimensões básicas do desenvolvimento sustentável e a diversidade cultural e de soluções urbanísticas e arquitetônicas, bem como proporcionando o máximo aproveitamento das condições biogeoclimáticas locais e promovendo a justiça social e ambiental. (MMA, 2011).

No relatório Visão 2050 do WBCSD/CEBDS, várias visões mostradas eram relativas ao desenvolvimento de ambientes urbanos sustentáveis. Eles apresentaram conceitos e características de cidades verdes, marrons e azuis, que seriam classificações de diferentes estágios de sustentabilidade.

A dinâmica da urbanização – uma combinação de cidades em expansão e populações imigrantes – acentuará os efeitos da escassez de energia, terra e recursos nas cidades e arredores. Ao mesmo tempo, aparecerão novos desafios sociais atualmente desconhecidos, que levarão a novas soluções e oportunidades. As cidades precisarão ser projetadas e reformadas para minimizar o desperdício de todas as formas, estimular o desenvolvimento da biodiversidade e de ecossistemas e fornecer aos habitantes os elementos básicos para o bem-estar humano de uma maneira eficiente em termos de recursos e energia. (WBCDS, 2011, p.39).

As soluções propostas são a mudança de setores estratégicos, como da construção e dos transportes, e a formulação de políticas sustentáveis. Dados da ONU apontam que o setor da construção, em nível global, responde por um terço do consumo de recursos naturais, incluindo 12% de todo o uso de água doce, e pela produção de até 40% de resíduos sólidos. As discussões atuais, conforme o blog SustainableCities, são em tornar as cidades mais inteligentes, com o uso da tecnologia a serviço dos cidadãos. Os focos mais importantes são sempre relativos ao uso de materiais, economia de energia, mobilidade e qualidade de vida. Uma das oportunidades de mercados sustentáveis mencionadas pelo WBCSD/CEBDS foi o desenvolvimento e a manutenção de cidades e infraestruturas com baixa emissão de carbono e zero de desperdício.

Quadro 2 - Quatro categorias de cidades criadas pelo Visão 2050, com perspectivas e oportunidades em cada setor.

Fonte: WBCSD, 2011

O setor da construção influenciaria muito nas mudanças, principalmente nas escolhas de materiais e no uso de projetos com recursos renováveis.

Tecnologias que ajudem a monitorar, relatar e controlar os gastos de energia dos edifícios novos e reformados ajudarão a cortar custos e a cumprir as políticas energéticas. Projetos criativos incorporarão tecnologias e materiais inovadores em estruturas habitáveis e aproveitáveis de mínimo impacto que usam ao máximo os espaços e recursos limitados. (WBCDS, 2011, p.40).

O relatório diz ainda que as empresas, por serem os principais clientes das construtoras, terão uma função de elevado protagonismo no processo de transformação cultural das sociedades, visando à sustentabilidade. Suas instalações comerciais e industriais mais inteligentes, que minimizam a utilização de recursos naturais, proporcionando a economia de energia e baixo nível de emissões, além de estarem abertas ao público, são divulgadas em seus relatórios reforçando o movimento de transição.