Desafios para a autossustentabilidade e a evolução do sistema

Internalização dos custos do processo de destinação adequada

Para que programas de logística reversa como este adquiram uma abrangência maior, é fundamental que os outros elos da cadeia e o consumidor final também passem a assumir sua responsabilidade no processo de destinação pós-consumo. Há uma expectativa de que esses atores participem solidariamente não apenas do fluxo do resíduo, mas também dos custos envolvidos. Hoje, na venda do produto, ainda não se tem atrelado o custo da reciclagem para o produtor. Não há um reaproveitamento de matéria-prima, este é um serviço que ainda precisa ser amadurecido.

Segundo Felipe Fonseca, pesquisador e fundador da Rede Metareciclagem, hoje se tem mais consciência da complexidade da reciclagem de eletroeletrônicos. Diferentemente do processo de reciclagem de outros materiais, a reciclagem de eletroeletrônicos envolve materiais perigosos e contaminantes, e nem sempre produz recursos suficientes para cobrir os próprios custos 64.

Segundo dados da Philips, os custos relativos aos serviços de manufatura reversa correspondem a cerca de 40% dos custos totais do Programa. Estes custos não são cobertos pelo retorno da matéria-prima – que não chega a pagar 10% do serviço. Há diversos custos agregados que encarecem o processo, como a descontaminação de tubos CRT das TVs, por exemplo. Os outros 60% dos custos ficam com a logística, que é encarecida por conta da extensão do território brasileiro.

Com isso, e dada a maneira em que se encontra hoje o setor de reciclagem (veja a seguir), o Ciclo Sustentável Philips não é hoje um programa autossustentável, estando ainda na fase de investimento.

Desenvolvimento e aumento da capilaridade da indústria da reciclagem

Grande fatia dos custos fica com o transporte – cerca de 60% do total. Seu peso está fortemente associado à dificuldade logística decorrente da escassa oferta e dispersão de serviços de reciclagem. A baixa ramificação geográfica da logística reversa é apontada como um dos fatores mais críticos para o avanço do programa.

Basicamente, a indústria da reciclagem ainda tem muito que se desenvolver. É difícil reciclar lâmpadas, por exemplo. Há poucas recicladoras e muito concentradas regionalmente – a grande maioria na região Sul e Sudeste, tornando difícil o atendimento em nível nacional.

A Philips é rigorosa quanto à homologação de seus prestadores de serviços ambientais. Todos eles passam por auditorias documentais e de inspeção física.

Ampliação do Programa e de seus impactos

A desejável ampliação da capilarização geográfica e da participação do consumidor no fluxo para reciclagem também permitiria uma avaliação dos impactos externos do Programa. A Philips reconhece que ainda precisa entender melhor tanto o impacto econômico da criação do serviço de reciclagem da matéria-prima da empresa – por exemplo, na recicladora e na cadeia que daí se alimenta – como também o balanço do impacto ambiental do Programa.

Certamente, a participação de outros atores contribuirá para maximizar seus benefícios ambientais, a começar pelo aumento da eficiência logística. A ampliação dessa participação é necessária tanto no que se refere às categorias de stakeholders envolvidos (entrada de outras empresas do setor, outros setores, varejistas e o governo local e nacional, estimulando a formação de um mercado de reciclagem) quanto à quantidade de atores envolvidos de cada categoria, aumentando o alcance e o fluxo de materiais retornados do consumidor.

- Estudando fechar o ciclo internamente

A utilização de material reciclado na fabricação de seus próprios produtos está em estudo pela Philips. Como alguns plásticos perdem determinadas qualidades no momento da reciclagem, não podem ser reutilizados em produtos novos. “Este é ainda um desafio na área de engenharia das fábricas, que busca entender como utilizar esse material em novos produtos”, explica Stephany Ibrahim, acrescentando que uma Análise de Ciclo de Vida do material abatido da matéria-prima ajudaria a quantificar o impacto ambiental mitigado.

Um exemplo dessa reutilização é a cafeteira Viva Café Eco, vendida na Europa, feita a partir de aparelhos eletrônicos descartados e reciclados. As partes de plástico externas são 100% compostas de material reciclado (exceto as peças em contato com a água e o café), a textura da tampa é feita com 50% de plásticos reciclados, subprodutos da fabricação de CDs e DVDs; as peças de aço inoxidável contêm 45% de metais reciclados, e a embalagem é composta por 90% de papelão reciclado 65.