Fatores facilitadores e desafios à concretização da Visão 2020

Segundo a empresa, um dos principais desafios no processo de viabilização da Visão 2020 foi fazer a ideia permear a corporação como um todo. Como se observa, isso foi superado graças ao forte engajamento da liderança, trabalhando-se de cima pra baixo, aliado à permeabilidade da cultura da empresa a novas propostas. A incorporação dos objetivos à gestão, traduzidos em ações e metas com o potencial de afetar a remuneração variável de cada integrante, amarra o compromisso em bases mais concretas. O horizonte de investimento em pesquisa e desenvolvimento alimenta e fortalece a musculatura da empresa para a jornada.

Esses são fatores facilitadores fundamentais, ausentes em muitas empresas. Mas há ainda que se lidar com o desafio maior, intrínseco ao setor e relevante para toda a sociedade – qual o caminho para tornar mais sustentável nosso consumo e aplicação de materiais, bem como seus processos produtivos?

No que se refere a aspectos tecnológicos – de desenvolvimento, amadurecimento e viabilização de novas matérias-primas para a produção de resinas – há dificuldades, mas André Leal as vê mais como uma questão de objetivo e de esforço: são desafios que se assume e que podem ser enfrentados à medida que se definem metas e equipes voltadas à inovação e à solução de problemas específicos. Mas o desenvolvimento de determinada tecnologia se insere num contexto maior e precisa de um norte bem definido.

- Qual é a rota sustentável?

A questão é que o melhor caminho a seguir nem sempre é claro, quando se leva em conta a complexidade de fatores envolvidos nos diferentes níveis da cadeia. Essa complexidade, evidenciada quando se discute em termos de ciclo de vida de produtos (veja acima), se reflete também na dificuldade de definição do que afinal significa, concretamente, uma química sustentável. Um novo modo de produzir pode eliminar determinado tipo de impacto, mas gerar novos em fases diferentes da cadeia. "O que, afinal, é mais desejável?", não é uma pergunta de resposta direta e absoluta. E isso, segundo André Leal, é um ponto que pode interferir na segurança quanto à direção a ser seguida. “Um ponto que considero crítico ainda é a clareza do que significa a química sustentável, e de quais são os nossos objetivos, de onde vamos trabalhar ‘pra dentro’ da empresa. Isso é um ponto que pode impactar nesse processo, pode atrasar um pouco, as pessoas vão ter que se ajustar e se preparar mais”, avalia.

A preocupação quanto à melhor direção a ser seguida é natural sempre que se trata de se debruçar e propor soluções concretas para os desafios da sustentabilidade, já que, seja no contexto de organizações, de governos, ou mesmo de hábitos individuais, novos meios de se fazer as coisas trazem novas redes de impactos. Daí a importância de análises integradas de impactos sociais e ambientais para orientar a tomada de decisão, frente à complexidade de fatores a serem equacionados. No contexto de uma empresa o desafio é ainda maior, já que seu modus operandi geralmente requer objetivos claros para engajar as pessoas em torno de determinado resultado. Isso reforça a importância da parceria com instituições de pesquisa para auxiliar nesse tipo de reflexão, pré-experimentação e avaliação.

Isso sem falar em diretrizes do governo federal, que teriam papel crítico a desempenhar no investimento em ciência e tecnologia, assim como no direcionamento de políticas públicas. Seremos um país pautado no desenvolvimento de biocombustíveis, com base em todo o investimento em tecnologia e cuidado com a cadeia de valor que isso implica, ou essa diretriz ganhará peso menor frente ao potencial do pré-sal?