Estruturando a incorporação à gestão

Liderança engajada, integração à cultura e à gestão de pessoas
- Liderança

Para dar consistência ao posicionamento estratégico da Braskem, André Leal destaca como fator fundamental a existência de uma liderança engajada no assunto dentro da empresa. “Foi fundamental a existência de pessoas engajadas, que entendem da lógica [da sustentabilidade nos negócios] para poder defendê-la dentro de casa. Se não houvesse esse conhecimento, que defende e faz a justificativa interna, seria bem mais difícil”, avalia.

A participação ativa do Diretor de Desenvolvimento Sustentável, Jorge Soto, em fóruns relacionados à sustentabilidade como o Comitê Brasileiro do Pacto Global da ONU, entre outros, também contribui para o fluxo de informações às discussões da alta administração da empresa.

- Integração à cultura empresarial

Além do apoio da liderança, André considera que os três pilares estabelecidos para que a empresa concretize sua visão 2020 estão amparados em uma cultura empresarial fortemente enraizada, alinhada aos princípios do desenvolvimento sustentável e voltada ao “relacionamento pautado na satisfação de [...] clientes, acionistas e de todas as partes interessadas”. “Temos uma gestão muito voltada a pessoas e à segurança, que nos permite trabalhar tudo isso. E um desenvolvimento tecnológico, que é um dos pontos críticos pra gente conseguir pensar em inovação”, explica.

“Na empresa há uma cultura de servir. Isso torna as pessoas bastante abertas a dividir e a se deixarem influenciar por novas posturas, o que permite disseminar novas lógicas, novos conceitos, que são então aceitos dentro da empresa”, contextualiza. Ao mesmo tempo em que a cultura acaba contribuindo para a permeabilidade à transformação por parte dos integrantes da empresa, a visão estratégica é divulgada insistentemente a todos, dando um norte em termos dos assuntos a serem explorados. Quando a visão da empresa se torna “ser a líder mundial na química sustentável, inovando pra melhor servir as pessoas”, cada integrante seleciona os assuntos da sustentabilidade mais relevantes a sua especialidade, buscando compreender melhor como incorporá-los a sua função, explica André.

- Desdobramento em metas individuais

Os três pilares sobre os quais a visão 2020 se apoia são desdobrados em ações nos diversos níveis de gestão. Todos os integrantes possuem um Programa de Ação (PA) que define as metas individuais a serem alcançadas em cada exercício, a começar pela alta direção. O líder empresarial da Braskem – o CEO – possui como compromisso um PA, que consiste em seus objetivos e metas para com a empresa, e essas metas são então desdobradas e cascateadas para todos os seus liderados: vice-presidentes, diretores, e assim por diante.

- Impactos na remuneração variável

Esse desenho de estratégia desdobrada em ações específicas para cada integrante tem sua força potencializada quando, por meio de metas individuais, é estruturado de modo a afetar a remuneração variável.

A área de sustentabilidade da empresa trabalha com sete macro-objetivos, envolvendo tanto a cadeia produtiva quanto as unidades industriais: Eficiência energética, Eficiência hídrica, Redução de gases de efeito estufa, Segurança química, Pessoas (abrange tanto o relacionamento com o público interno quanto com as comunidades externas), Destinação pós-consumo de resíduos plásticos e Matéria-prima renovável. Esses objetivos são desdobrados em cada PA – ainda que os líderes possuam autonomia para determinar a alocação de metas e quem irá trabalhar melhor determinados assuntos dentro de seu objetivo. Segundo André, isso é reflexo da descentralização da cultura (baseada nos fundamentos éticos, morais e conceituais da Tecnologia Empresarial Odebrecht - TEO), que proporciona certa autonomia dentro de determinado direcionamento.

Desafios na cadeia de valor

Segundo André Leal, no que se refere à sustentabilidade, na fase atual a Braskem tem se concentrado em dar consistência à suas próprias atividades e operações. Esse é um passo importante para adquirir credibilidade e poder atuar mais fortemente em sua esfera de influência. “Se não posso fazer minha parte, não posso influenciar minha cadeia de valor”, pondera André.

Para ele, conseguir levar esse trabalho para a cadeia ainda é um ponto crítico, que depende de educação e de um exercício de criar percepção de valor. De um lado há o cliente, por exemplo, que pode optar por usar os insumos da empresa na criação de produtos plásticos com características mais sustentáveis. “Se o cliente não consegue perceber valor na sustentabilidade, eu não consigo convencê-lo desse caminho”, observa.

Atualmente, a Braskem trabalha com grupos específicos de sua cadeia, como a cadeia de suprimentos do etanol derivado da cana-de-açúcar. A produção do polietileno verde e de ETBE (bioaditivo para combustíveis) tornou a empresa a maior consumidora industrial de etanol do Brasil – cerca de 700 milhões de litros por ano. Visando formalizar compromissos entre a empresa e os fornecedores, a Braskem criou em setembro de 2010 o Código de Conduta para Fornecedores de Etanol , que busca assegurar os direitos e boas condições de trabalho dos trabalhadores da cultura canavieira, além do controle dos principais impactos ambientais da cadeia do etanol.

O Código estabelece boas práticas socioambientais a serem seguidas no processo produtivo, abordando a questão das queimadas, do cuidado com a biodiversidade, práticas ambientais adequadas, aspectos de direitos humanos e trabalhistas, além do comprometimento de fornecer à Braskem as informações necessárias para a elaboração da Análise de Ciclo de Vida (ACV) dos produtos que utilizam o etanol de cana-de-açúcar como matéria-prima. Sua elaboração teve como referência a legislação brasileira, os princípios do Protocolo Agroambiental do Estado de São Paulo, do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), do Zoneamento Agroecológico da Cana-de-açúcar (que orienta a produção de etanol no Brasil) e do Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Cana-de-açúcar, envolvendo o governo federal e as indústrias do setor. Em 2012, 95% do etanol utilizado pela empresa foi proveniente de usinas que assinaram o Código, cujo cumprimento é acompanhado pela Braskem por meio de visitas periódicas às unidades produtoras.

Assegurar-se da organização de uma cadeia do etanol sobre bases socioambientais confiáveis é fundamental para a empresa visto que, havendo aumento da demanda pelo plástico verde, potencialmente se expandiria também a área plantada de cana-de-açúcar – ainda que melhoramentos periódicos no processo de produção de açúcar e álcool possam aumentar a produtividade.

- Conhecimento do ciclo de vida dos produtos

Na tarefa de convencer o cliente do valor, ligado à sustentabilidade, na escolha de determinados produtos, ou de colocar ao fornecedor quais as práticas aceitáveis e quais as não aceitáveis, um fator crítico é informação: possuir conhecimento, reconhecer as peculiaridades da cadeia e dos processos produtivos, seus riscos e impactos diretos e indiretos.

No entanto, na comparação entre produtos, as fronteiras da análise fazem toda a diferença. Quais as esferas de impactos indiretos consideradas?

Dada a dificuldade de se determinar com clareza o grau de “sustentabilidade” de determinado produto em relação a outro, uma ferramenta essencial é a análise do ciclo de vida (ACV), que busca uma avaliação completa dos impactos de um produto ou processo, desde a obtenção da matéria-prima até o descarte, passando por todas as etapas intermediárias de manufatura, transporte e utilização.

Sem esse tipo de análise mais complexa, a afirmação de que um produto é preferível por ser de origem renovável pode ser derrubada quando se inclui outras etapas na análise, como os impactos do processo de obtenção da matéria-prima do ponto de vista de uso do solo, do consumo de água ou de energia, por exemplo.

Além disso, o resultado de cada análise se aplica apenas para o local e as condições de produção envolvidas no estudo, não se pode generalizar. Para citar um aspecto como exemplo: o nível de emissões de gases de efeito estufa da produção do etanol de cana-de-açúcar no Brasil não é o mesmo do etanol produzido em outros países, já que a matriz energética do Brasil é uma das mais limpas do mundo. Isso se reflete na ACV do produto no que tange aos aspectos de uso de energia – que vem de hidrelétricas – e de transporte – com participação de etanol e biodiesel. Por isso, estudos feitos em outros países ou outras condições possuem pouca aplicabilidade em contextos distintos, daí a importância de se conhecer os parâmetros de comparação para uma avaliação mais robusta.

Atuando na cadeia de valor, também se destaca a iniciativa da Braskem na criação da Rede Empresarial Brasileira de ACV, fórum que congrega empresas, por iniciativa voluntária, para discutir o conceito de ACV e disseminar boas práticas na aplicação da ferramenta no ambiente empresarial.

Em 2012, foram realizados três novos estudos de ACV – sobre o liner verde (Green Liner –projeto com etiquetas autoadesivas), sacaria de ráfia e polipropileno verde –, por meio da Fundação Espaço Eco e ACV Brasil. Os estudos permitem que a Braskem entenda cada vez melhor o impacto ambiental dos seus produtos ao longo do ciclo de vida e, com isso, a relevância da sua contribuição na cadeia. O estudo elaborado em 2010 pelo Denkstatt AG, instituto de pesquisa austríaco, para a associação de produtores de plástico da Europa, a Plastics Europe, apontou que os plásticos proporcionam, ao longo do ciclo de vida, reduções de emissões de CO2 ,na ordem de cinco a nove vezes o gerado durante a sua produção. Fica evidente, portanto, a contribuição do material para a economia verde.

Quadro 11 - Educação para o consumo e a sustentabilidade em escolas

Mas a Braskem parece disposta a lidar com incertezas de diversas naturezas. “Sabemos que há pontos que irão surgir no caminho, e não há nada que a gente não saiba que pode ter que repensar. O desafio é intrínseco, sabemos que não podemos resolver tudo de uma vez. A atualização, o ajuste e o repensar fazem parte”, enfatiza André Leal.

Essa perspectiva de cuidado e conhecimento da cadeia de valor vale tanto para o trabalho com fornecedores quanto com clientes, e o desafio é fazer com que esse tipo de informação chegue até o consumidor final, orientando suas decisões.