Programa de eco eficiência (“pegada ecológica”)

Ecoeficiência já é um termo há bastante tempo conhecido da indústria, abraçado desde a Rio-92 como sinônimo da sustentabilidade industrial. A partir daquele ano, o World Business Council for Sustainable Development definiu que

ecoeficiência é alcançada mediante o fornecimento de bens e serviços a preços competitivos que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida, ao mesmo tempo em que reduz progressivamente o impacto ambiental e o consumo de recursos ao longo do ciclo de vida, a um nível, no mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada da Terra. (WORLD BUSINESS COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT – WBCSD, 1992).

Corresponde, portanto, a um uso eficiente de recursos naturais, principalmente água e energia, para produção das comodities humanas.

Quanto à pegada ecológica, é um conceito desenvolvido para medir a quantidade de recurso que uma determinada pessoa, organização ou nação consome, e aferido em hectare per capita. De acordo com a WWF (ONG de proteção ambiental fundada em 1961):

Pegada Ecológica de um país, de uma cidade ou de uma pessoa, corresponde ao tamanho das áreas produtivas de terra e de mar, necessárias para gerar produtos, bens e serviços que sustentam determinados estilos de vida. Em outras palavras, a Pegada Ecológica é uma forma de traduzir, em hectares globais (gha), a extensão de território que uma pessoa ou toda uma sociedade “utiliza”, em média, para se sustentar.

Para o seu cálculo, são considerados os seguintes recursos relacionados ao consumo humano: áreas de cultivo, carbono, pastagens, estoques pesqueiros, florestas e áreas construídas. 3

As empresas, conforme os resultados do McKinsey Global Survey, “The business of sustainability”, pesquisa feita com mais de 3 mil executivos, estão buscando atingir princípios da sustentabilidade por motivos que vão além da gestão da imagem, como economia de energia, desenvolvimento de produtos verdes e manutenção de funcionários motivados, ações que ajudam na captura de recursos pelo retorno financeiro e pelo crescimento.

A sustentabilidade está cada vez mais próxima da questão financeira, como uma forma de redução de custos, e não somente de imagem. 33% das empresas do McKinsey Global Survey têm o foco da sustentabilidade na eficiência operacional, como redução de resíduos e economia de energia. Empresas nos setores de energia, extração e transporte têm abordagem mais proativa, provavelmente pela forte regulamentação e pelos limites de recursos naturais. Conforme o Ministério de Minas e Energia, “pode-se considerar os ganhos em eficiência energética como provenientes de duas parcelas: uma referente ao “progresso autônomo” e outra referente ao “progresso induzido”. Por progresso autônomo entende-se aquele que se dá de forma espontânea, ou seja, através da reposição natural do parque de equipamentos por similares novos e mais eficientes. Por progresso induzido, entende-se aquele que requer estímulos através de políticas públicas”. (MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, 2013) 4

A Câmara Internacional do Comércio coloca que, em uma economia verde, reconhece-se que os recursos ambientais do planeta são finitos e necessitam ser manejados com a atenção na escassez dos recursos e no ciclo de vida dos produtos. Enaltece a necessidade de os líderes governamentais apoiarem essa visão e se comprometerem em escolhas que promovam o uso eficiente de recursos, como finalizar subsídios ao desperdício, promover a padronização da eficiência energética do mercado, desenvolver políticas de energia e recursos naturais que reduzam incerteza em investimento de longo prazo, continuar a luta contra a corrupção e proteger recursos escassos.

Com relação à água, o “Water for Business – Initiatives guiding sustainable water management in the private sector”, documento produzido pelo Conselho Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, apresenta iniciativas e discute metodologias de mensuração. Ambos os assuntos estão em discussão internacional para que seja possível medir as pegadas hídricas e haja um consenso mundial sobre os critérios. Conforme dados do World Economic Forum, de 2010, a demanda pela água deve aumentar, e as análises sugerem que o mundo terá uma queda na disponibilidade de água em 40% até 2030. O investimento de 0,16% do PIB mundial no setor de água poderia garantir acesso à água e reduzir pela metade o número de pessoas sem acesso à água ou saneamento básico em menos de 4 anos, conforme relatório da ONU.

Ecoeficiência confunde-se, em alguns meios, com Produção Mais Limpa, ou P+L, que é eliminar a poluição durante o processo produtivo, e não como mitigação dos impactos no fim do processo, ou soluções “end of pipe”. Contudo, a P+L vai além da ecoeficiência por tratar não somente do uso de recursos, mas também de impactos positivos e negativos do processo produtivo. Ambos, no entanto, têm um enfoque tanto ambiental quanto social e econômico, com benefícios diretos e mensuráveis para as organizações.

A eficiência energética é um dos assuntos mais tratados no campo da ecoeficiência. O Ministério de Minas e Energia aprovou em 2011 o Plano Nacional de Eficiência Energética, trazendo políticas, objetivos e diretrizes sobre o assunto. O Plano Nacional propõe a criação de banco de dados e informações sobre, por exemplo, índices de consumo específico, linhas de base de desempenho energético de processos e tecnologias de uso final, entre outros; o estabelecimento de mecanismos que promovam um intercâmbio constante entre as instituições responsáveis pelo planejamento e os agentes detentores de informações, tais como INMETRO, PROCEL, CONPET, CEPEL e academia, para a efetiva formação e atualização do banco de dados; e o desenvolvimento de estudos e aperfeiçoamento contínuo de metodologias para tratamento das informações, dados e medidas de eficiência energética nos modelos e estudos de planejamento.

Os programas de ecoeficiência já estão disseminados e estudados por diversas organizações. Iniciam-se por balanços de massa e energia, determinando indicadores, comparando diferentes medidas e produtos conforme seus gastos de água, energia ou matéria-prima. Diversas certificações têm na ecoeficiência sua base, como a certificação LEED de construções civis, da Forest Stewardship Council (FSC). A ecoeficiência é também um dos focos de programas governamentais.

Em 2000, o WBCSD desenvolveu indicadores para a mensuração da ecoeficiência de uma organização, baseados em oito princípios, que asseguram o valor científico, a relevância ambiental, a precisão e a utilidade em todos os negócios em nível mundial. São focados em duas áreas, economia e ecologia, e basicamente refletem o valor do produto ou serviço por determinado impacto ambiental (consumo de água, energia, matéria-prima ou emissão de gases de efeito estufa ou poluentes).

Empresas têm criado grupos de trabalho interno focando a otimização de recursos. O setor de eletrodomésticos tem disponibilizado certificações, como o Procel, que estimulam as vendas de produtos econômicos que impactam positivamente os consumidores, sob o aspecto financeiro.

Para auxiliar no incremento da ecoeficiência, há empresas chamadas ESCO (Energy Saving Companies) que financiam melhorias de ecoeficiência em organizações, cobrando apenas parcelas da economia gerada.