Aplicação ISO 26000

Com a crescente importância do foco estratégico em responsabilidade social (RS) das organizações e com a emergência de conceitos e enfoques diversos, foi desenvolvida a norma internacional de responsabilidade social ISO 26000. Com o objetivo de fundamentar o tema mundialmente, seu processo de confecção foi considerado o maior e mais complexo já realizado pela International Organization for Standardization (ISO). Ao longo da sua elaboração, contou com a participação de 99 países, envolvendo mais de 450 especialistas e 210 observadores. Iniciativa coordenada pelo Brasil e pela Suécia, teve a representação de diversas partes interessadas: indústrias, governos, trabalhadores, consumidores, ONGs, serviços de suporte, academia e consultorias.

Essa norma tem o caráter de orientação, de guia, de consolidação de conceitos, princípios e temas relevantes relacionados à RS, além de sugerir procedimentos para um sistema de gestão. Ela não objetiva certificação e não propõe formalmente o sistema de gestão. Por ser uma norma única e diferente da história de concepção das demais normas da ISO, é imprescindível que seja divulgada, compreendida, experimentada e aplicada estrategicamente pelas empresas, para encaminharem suas políticas de sustentabilidade.

A norma é estruturada em sete capítulos. Parte da contextualização do conceito, da identificação dos princípios e dos principais assuntos e questões da responsabilidade social. Nos primeiros capítulos, a norma fornece conceitos e princípios fundamentais às atividades da organização, que devem ser internalizados pela cultura e consequentes operações, estendendo-se a sua cadeia de valor: ética, transparência, accountability, conformidade legal, diálogo e respeito aos interesses das partes interessadas. Depois, cita temas centrais, descreve-os e fala de ações e expectativas sobre cada um. São eles: governança organizacional, direitos humanos, meio ambiente, práticas leais de operação, questões relativas ao consumidor e envolvimento com a comunidade e seu desenvolvimento.

O capítulo 7 trata da aplicação dos conceitos citados nos demais capítulos. Para incorporação da responsabilidade social à gestão da organização, ela deve passar pelos seguintes tópicos: analisar como algumas características essenciais, principalmente os temas centrais, relacionam-se com RS, determinar a relevância e significado dos assuntos essenciais para a organização; avaliar as possibilidades dentro de sua esfera de influência e estabelecer prioridades para tratar de assuntos e questões essenciais.

Todo sistema de gestão depende da identificação de aspectos que devem ser acompanhados e da determinação de indicadores. Em se tratando da ISO 26000, para determinar a esfera de responsabilidade social, é fundamental que se identifiquem as questões relevantes a suas atividades e decisões, as ações e expectativas relacionadas e considerem os impactos das atividades e decisões da organização, tendo em mente os interesses e expectativas das partes interessadas.

Um dos grandes desafios para sua utilização é o processo de como se avaliar o nível de adequação à mesma, uma vez que não há certificação. Esse foi um dos grandes debates que envolveu o seu desenvolvimento, mas, em síntese, podemos considerar que a norma é um grande acordo global, um retrato do mundo com suas expectativas impressas em sua páginas, relativas ao que seria RS praticada pelas organizações.

Sua importância na realidade empresarial é uma questão de decisão interna das organizações e pressão externa. Acreditamos que serão desenvolvidas maneiras de se auditar externamente, por entidades independentes, o atendimento às premissas especificadas na norma.