Adequação da ISO 9000 à sustentabilidade

A ISO 9000 é uma série de normas desenvolvida pela International Organization for Standardization (ISO), com foco na qualidade do produto ou do processo. Essa série foi amplamente usada pelo mundo e também no Brasil por organizações dos mais diversos setores. Foi criada em 1987 com o objetivo de estabelecer critérios para implantação de Sistemas de Garantia da Qualidade. Sua primeira versão criou uma estrutura de três normas sujeitas à certificação, a ISO 9001, 9002 e 9003, além da ISO 9000, que era uma espécie de guia para seleção da norma mais adequada ao tipo de organização. Três anos depois, a ABNT desenvolveu sua versão para o Brasil. Em dezembro de 2000, a série foi totalmente revisada; além das alterações em sua estrutura, definiu-se apenas uma norma sujeita à certificação, a ISO 9001. Uma mudança importante foi o enfoque em gerenciamento de processos. Foram desenvolvidas versões em 2005 e 2008 que aperfeiçoaram definições e efetividade do sistema, respectivamente.

Apesar de não ter um foco tão abrangente quanto o da sustentabilidade, trata de questões-chave para o desenvolvimento responsável, produtos e processos. Mais recentemente, aqui também foi natural se rever o conteúdo dessa norma, buscando-se um alinhamento com as premissas e orientações da ISO 26000.

A análise das oito secções da norma ISO 9001 leva à constatação de que o ponto central de um sistema de gestão da qualidade baseado nas normas ISO 9000 consiste na apropriada documentação desse sistema. Apesar disso, a padronização não é o único foco. O sistema de gestão propicia à empresa uma ampla reflexão sobre as ferramentas disponíveis e as ações tomadas, permitindo, inclusive, um planejamento estratégico com foco na sustentabilidade do negócio.

Para as empresas, a ordem natural de adoção de sistemas foi a implementação da ISO 9000, voltada para a qualidade, e posteriormente para as ISO 14000 e OHSAS 8000, ampliando o escopo de gestão para meio ambiente e segurança e saúde ocupacionais. A busca pela qualidade foi uma exigência de mercado, que passou a ser incorporada pelas estratégias das empresas. A qualidade, depois, tornou-se uma forma de aprimorar a produtividade, diminuir os custos, buscar excelência em níveis de desempenho. A ampliação do conceito de qualidade e as novas pressões do mercado tornaram a incorporação da questão ambiental fundamental, como uma forma de qualidade de processo no contexto.

A norma ISO 9000 passou por diversas mudanças, evoluções devidas à maturidade da compreensão de contextos e realidades organizacionais. Uma delas foi a necessidade de trazer o foco da sustentabilidade para o centro do processo, para que as decisões abarcassem a longevidade e a melhoria do mesmo. Entretanto, a norma não é suficiente para atender as necessidades das organizações quanto à sustentabilidade.

Nessa trajetória de evolução dos sistemas de gestão, percebemos a adequação dos já consagrados, como a ISO 9001, às orientações da ISO 26000 nos quesitos que lhes são pertinentes e uma complementação com outros sistemas, como os voltados para responsabilidade social, a fim de se garantir uma melhor gestão sobre os fatores e agentes corresponsáveis pela longevidade dos empreendimentos.

Inclusive têm surgido importantes iniciativas de se utilizar os sistemas já existentes nas organizações, para ampliar seus escopos e possibilitar uma gestão integrada voltada para a sustentabilidade.