Características do Programa

Diagnóstico local e seleção de lideranças

A escolha das lideranças da comunidade é resultado de um processo de diagnóstico prévio que contribuiu para a concepção do Programa. Em cada município foi realizado um diagnóstico socioeconômico e ambiental detalhado, com levantamento de dados primários e avaliação de necessidades para subsidiar o Programa. Nesse período, foi utilizada uma metodologia para identificar, junto à comunidade, quais as lideranças formais e informais que estão efetivamente trabalhando pelo município, e essas pessoas foram então convidadas a participar do Programa.

Em função do cenário observado, a empresa desenhou o formato e diretrizes do Programa Energia Social para a Sustentabilidade Local buscando enfatizar a mobilização comunitária de forma organizada e participativa.

Contexto socioambiental nos municípios

Os municípios onde a ETH possui unidades agroindustriais implantadas são de pequeno porte, com população que varia de 2,9 mil (Perolândia) a 53 mil habitantes (Mineiros) e apresentam um contexto socioeconômico bastante similar: economia predominantemente agropecuária, com baixo dinamismo nas outras atividades; baixa renda e baixa escolaridade da população; precariedade na estrutura da gestão municipal, com poucos profissionais tecnicamente qualificados e estrutura deficiente para o atendimento à população; altos índices de distorção série-idade e abandono no ensino médio; grande relevância dos assentamentos de reforma agrária; falta de saneamento básico e tratamento adequado de resíduos sólidos; falta de atividades de cultura e lazer; e ausência de instâncias de participação e controle da sociedade civil com relação às políticas públicas.

A análise das informações levantadas apontou que a primeira fase do Programa deveria focar no engajamento e integração entre comunidade, governo local e integrantes da ETH. Antes de mais nada, esses atores necessitavam de um alinhamento para que pudessem discutir as prioridades do município, já tendo como base os conceitos e princípios do desenvolvimento sustentável (veja o item Fundamentos das diretrizes do Programa). O modelo proposto deveria valorizar o conhecimento local e adicionar o compromisso coletivo, construindo uma agenda positiva e democrática de forma estruturada, com base nas referências do Programa. Assim, o programa Energia Social para a Sustentabilidade Local foi desenhado visando garantir a articulação com forças locais, de modo a catalisar a "energia social" presente e desenvolver a governança local para que assuma o protagonismo em seu desenvolvimento de forma sustentável no longo prazo.

Objetivos

O objetivo geral do Programa é elevar a qualidade de vida dos municípios em que a ETH Bioenergia atua.

Seus objetivos específicos são:

  • Integrar e fortalecer os laços com as comunidades.
  • Permitir um maior conhecimento das atividades da ETH pela comunidade e maior conhecimento sobre a comunidade pela ETH.
  • Gerir o relacionamento e os investimentos da ETH nas regiões de influência direta das suas atividades.
  • Estimular o protagonismo das comunidades na construção de um modelo de desenvolvimento local sustentável.
  • Promover o engajamento e capacitação do governo local e de representantes da comunidade para o desenvolvimento de ações e projetos que visem ao desenvolvimento da região.

Estrutura e funcionamento

O programa Energia Social para a Sustentabilidade Local funciona por meio de um Conselho Comunitário (órgão responsável por referendar os projetos desenvolvidos pelo programa) e de quatro Comissões Temáticas (grupos de trabalho que elegem as prioridades e os pré-projetos) para cada município, sendo os temas: Cultura (Resgate da cultura local); Educação; Atividades Produtivas (visando criar outras oportunidades de emprego e renda não dependentes das atividades da ETH) e Saúde, Segurança e Preservação Ambiental – sempre com foco em valorização da vida. Tanto o Conselho Comunitário como as Comissões Temáticas são compostos por dois representantes do governo local, dois integrantes da ETH e três representantes da sociedade civil do município. Em todos os municípios, a ETH promove reuniões mensais envolvendo, no mínimo, quatro fóruns: Diálogos Comunitários (abertos à comunidade); Reuniões de Comissões Temáticas; Reuniões do Conselho Comunitário (restritas aos conselheiros e membros das CTs); e o Cine Energia Social (aberto à comunidade).

Esses fóruns fornecem espaço para que sejam ouvidas as demandas das comunidades, que são levadas em consideração em conjunto com as demandas da prefeitura – que nem sempre convergem – em um formato que busca soluções de consenso. O processo envolve a capacitação das comunidades para diversos temas, a começar pela compreensão do conceito de sustentabilidade e suas implicações em seu contexto, sua visão de futuro e soluções para o bem-estar coletivo, bem como dinâmicas para a priorização de projetos, elaboração de projetos, elaboração de pré-projetos em conjunto com o governo e a comunidade e apresentação dos projetos à apreciação do Conselho Comunitário. Todas as reuniões e deliberações são registradas através de atas, permitindo a rastreabilidade das decisões.

- Modelo e dinâmicas incorporadas

Modelo de Governança: foi desenvolvido um modelo voltado ao envolvimento e participação da comunidade através da mobilização para o diálogo social com uma estrutura padrão aplicada em cada município:

  • Conselho Comunitário (CC): constituído por pessoas reconhecidas por sua atuação profissional e representatividade nos locais onde atuam: na ETH, na Prefeitura e na comunidade. O papel do Conselho é garantir que o objetivo e as metas do Programa sejam alcançados, com a integração e a participação da comunidade, deliberando e garantindo a implantação dos projetos e ações propostas pelas Comissões Temáticas.
  • Comissão Temática (CT): constituída por representantes da ETH, governo local e comunidade por indicações locais. O papel das Comissões é avaliar as demandas prioritárias, definir os projetos e submetê-los à validação do CC, dentro das áreas de atuação priorizadas pelo Programa. As CTs também definem ações de mobilização necessárias. Os temas que constituem as comissões são Educação; Cultura; Atividades Produtivas e Saúde, Segurança e Preservação Ambiental.

Facilitação Local: a facilitação é feita em parceria com o Instituto 5 Elementos de Educação Ambiental, que contrata um profissional local em cada município para ajudar na mobilização e no envolvimento das comunidades no Programa.

Diálogos Comunitários: foram estabelecidos encontros locais com o objetivo de capacitar a comunidade e integrantes do Programa (Comissões Temáticas e Conselhos Comunitários) por meio de conversas sobre a sustentabilidade. Além disso, os diálogos visavam construir de forma participativa as linhas de atuação para o Programa, utilizando como referência documentos e instrumentos reconhecidos nacional e internacionalmente, relacionando as temáticas com a realidade local.

Acordos de Convivência: dinâmica implementada nos Diálogos Comunitários com o objetivo de ampliar o comprometimento com o processo de governança, estimulando os participantes a incorporarem valores e atitudes relevantes para o processo participativo, tais como definição de foco, comprometimento, sinergia, fomento à criação e respeito às ideias, ação, cooperação, confiança e avaliação. Os compromissos são definidos pelos próprios participantes.

Café com Prosa: dinâmica em que foram formados grupos com pessoas dos CTs e CCs com o objetivo de discutir os problemas no município por área temática.

Cine Energia Social: ação de sensibilização com o objetivo de criar uma cultura e o compromisso da comunidade com a busca do desenvolvimento sustentável local. A temática dos filmes é voltada para conscientização, compartilhamento de informações, experiências e boas práticas em preservação ambiental, saúde e outros projetos sociais no país. O Cine é fixo e itinerante, sendo realizado em escolas, universidades, secretarias de governo e centros de convivência. A distribuição de pipoca grátis atraiu as crianças e revelou a oportunidade para sessões com temas infantis.

Capacitação prévia: preparo para a autossustentabilidade

Além de ter como proposta central o processo participativo, o Programa tem como premissa não criar projetos assistencialistas, não apenas para evitar dependência com relação à empresa mas também para não estimular ações de curto prazo. A ideia é estimular projetos autossustentáveis, escolhidos juntamente com a comunidade e que possam ser continuados pela administração local de maneira independente da empresa.

Isso envolve a construção de políticas públicas. Como a cultura política no Brasil é focada em mandatos do Poder Executivo, a preocupação da empresa é estimular, sob a forma de políticas públicas, que a comunidade tenha o suporte necessário para que os projetos continuem em andamento independentemente da mudança dos administradores municipais.

Para isso, a capacitação da comunidade é um elemento fundamental, construindo a solidez do Programa como um todo. No primeiro ano em uma comunidade o programa Energia Social trabalha fortemente a capacitação, apoiando a população e o governo local na realização de diagnósticos de suas cidades, definição de linhas de atuação e identificação dos projetos prioritários, sempre com base nos critérios de sustentabilidade e nas referências do Programa. Somente após as etapas de capacitação, quando são definidas as metas e prioridades de cada município, é que o Conselho Comunitário começa a receber os pré-projetos propostos pelas Comissões Temáticas.

Para que sejam aprovados, os projetos devem atender a um padrão, com informações como resumo, contexto, objetivos do projeto, público-alvo, potenciais parceiros e suas responsabilidades, equipe que coordenará o projeto, orçamento estimado, avaliação da sustentabilidade do projeto e como ele contribuirá para a sustentabilidade do município, entre outros fatores.

Fundamentos das diretrizes do Programa

Do ponto de vista interno, as diretrizes do Energia Social para a Sustentabilidade Local tiveram como parâmetro a Política de Sustentabilidade da Odebrecht e o Código de Conduta Ética da ETH, que permitiram o alinhamento dos objetivos ao negócio e à cultura organizacional.

A estrutura temática e a abordagem que dão sustentação ao Programa têm como base documentos reconhecidos globalmente como referência no debate sobre desenvolvimento sustentável, sendo eles:

  • Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs) da Organização das Nações Unidas (ONU): Por meio do site dos ODMs (www.portalodm.com.br), a empresa conseguiu também levantar informações importantes para o diagnóstico dos municípios e discuti-las com as comunidades e o governo local, estabelecendo metas para as ações do programa.
  • Carta da Terra: os princípios da Carta da Terra foram incorporados para nortear as diretrizes e estratégias do Programa, como:
  • Respeitar e Cuidar da Comunidade da Vida: desenvolver uma postura de liderança para a sustentabilidade inclusiva promovendo um ambiente de cooperação e conexão, interna e externamente à empresa.
  • Integridade Ecológica e Justiça Social e Econômica: redesenhar os processos relativos ao meio ambiente, buscando soluções e não paliativos, contribuindo para o estabelecimento e fortalecimento de padrões de conduta frente ao meio ambiente.
  • Respeitar e cuidar da comunidade: oferecer a todos oportunidades educativas que lhes permitam contribuir ativamente para o desenvolvimento harmônico e sustentável. Definir estratégia que fortaleça as comunidades locais para cuidarem de seus próprios ambientes. Trocar a cultura de filantropia por uma efetiva transformação da realidade local, desenvolvendo, em conjunto com as comunidades, soluções criativas e inovadoras.
  • Justiça Social e Econômica: assegurar justiça social e econômica dentro do universo de atuação do Programa. Definir estratégia que permita à comunidade migrar do mercado tradicional para espaços ainda não explorados com a geração de oportunidades que contribuam para o bem comum.
  • Flor da Cultura da Sustentabilidade: a partir de três pilares – Cuidado com as Pessoas, Cuidado com a Terra e Repartir Excedentes – a ferramenta desmembra outros seis macrotemas, dentro dos quais as comunidades devem levantar as prioridades de ação: Segurança Alimentar, Água, Energia e Tecnologia, Interação Humana, Espécies e Ecossistemas e Economia Local.
  • Agenda 21: foram incorporadas as estratégias de diálogo e formação da comunidade por um instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográficas, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica.

Quadro 13 – Fases da implantação do programa

Quadro 14 – Parcerias estabelecidas

Implantação e monitoramento

O Quadro 13 apresenta a estrutura completa do Energia Social para a Sustentabilidade Local, e o Quadro 14 as parcerias estabelecidas no processo. O Programa encontra-se na Fase III, de Implantação e monitoramento dos projetos e do desempenho do programa.

Foram aprovados, até agosto de 2012, 37 projetos nos nove municípios – de laboratórios de análises clínicas à estruturação e aquisição de equipamentos para uma cooperativa de corte e costura. Dentre eles, três projetos centrais foram implantados quase todos os municípios:

  • Qualificação Profissional: Cursos em diversas áreas com o objetivo de qualificar a mão de obra para suprir a alta demanda por novos postos de trabalho, tanto na ETH como em outras empresas.
  • Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos (Caçu, Cachoeira Alta, Nova Alvorada do Sul, Mirante do Paranapanema e Teodoro Sampaio): Desenvolver o Plano para implantar o modelo de gestão de resíduos e coleta seletiva no município, atendendo a nova Política Nacional de Resíduos Sólidos.
  • Ponto de Cultura da Sustentabilidade (Caçu, Cachoeira Alta, Nova Alvorada do Sul, Mirante do Paranapanema e Teodoro Sampaio): Implantar o primeiro empreendimento cultural com tecnologias de construção sustentáveis e integração com o meio ambiente: uso da água, tratamento de esgoto, ventilação e iluminação natural, hortas, conservação de energia, telhado verde, entre outros.

Indicadores

Buscando uma evolução consistente, o Programa é monitorado por meio de indicadores de gestão de modo que possa justificar sua manutenção para as partes interessadas: comunidade, governo local, e a própria ETH.

Em 2011, foram estabelecidos 58 indicadores visando avaliar os resultados do Programa de forma quantitativa e qualitativa. Desenvolvidos com base nas diretrizes do International Finance Corporation (IFC/Banco Mundial) para a avaliação de projetos sociais, esses indicadores foram submetidos à validação do governo, da comunidade local e dos administradores da ETH, e organizados em uma matriz que explicita o atendimento a qual parte interessada. A ETH mantém relatórios mensais com as ações e resultados da iniciativa por município, atas de reunião e boletins informativos divulgados após cada reunião. Essas informações também são disponibilizadas no site específico do programa (www.energiasocial.com).

–– Avaliação dos resultados

O monitoramento do Programa ficou organizado em duas dimensões:

  • Projeto Estruturante: acompanhar os indicadores de estrutura de governança, mobilização e comunicação.
  • Projetos de Desenvolvimento Local: acompanhar os indicadores dos projetos apoiados pelo programa.

Ambas foram estruturadas em:

  • Indicadores de Insumo: recursos que são investidos para a realização do projeto (humanos, materiais e financeiros).
  • Indicadores de Produtos: bens e serviços gerados no curto prazo, a partir dos insumos.
  • Indicadores de Resultados: mudanças esperadas no médio prazo, em relação a acesso, utilização, comportamento ou desempenho dos produtos.
  • Indicadores de Impactos: efeito último da intervenção sobre uma dimensão crucial do desenvolvimento a longo prazo - patamar de mudança.
  • Indicadores de Benefício para o Negócio: valor agregado direta ou indiretamente ao negócio pelas atividades do Programa.