Pressão das grandes empresas em suas cadeias produtivas

As ações sustentáveis de uma única empresa, ainda que grande, tornam-se pouco efetivas caso sua cadeia produtiva não siga as mesmas práticas, tanto pela imagem do setor quanto pelo comprometimento da qualidade e da sustentabilidade do produto ou da matéria-prima. Não existe empresa sustentável do portão para dentro. Só existem empresas sustentáveis em cadeias sustentáveis. Daí a pressão que grandes empresas exercem em suas cadeias produtivas para que as mesmas incorporem boas práticas, garantindo, assim, a manutenção e a qualidade de suas próprias ações.

Pela McKinsey Global Survey, “The business of sustainability”, pesquisa feita com mais de três mil executivos, a inclusão da sustentabilidade na gestão da cadeia de valor é um dos últimos processos em que a empresa está atuando. Várias têm visão das suas ações em termos de sociedade e de meio ambiente, mas não dos impactos na cadeia de valor. Conforme Boechat e Paro (2007), um dos desafios da sustentabilidade no Brasil é a falta de uniformidade ao longo das cadeias produtivas, no que diz respeito à manutenção de padrões éticos elevados e de práticas econômicas, ambientais e sociais compatíveis com o desenvolvimento sustentável.

De acordo com a norma ISO 26000, as organizações devem influenciar sua cadeia de valor, através de práticas leais de operação.

Uma organização pode influenciar outras organizações por meio de suas práticas e decisões de compra. Por meio de liderança e aconselhamento ao longo da cadeia de valor, ela pode promover a adoção e apoio a princípios e práticas de responsabilidade social. Recomenda-se que a organização considere os possíveis impactos ou consequências não intencionais de suas práticas e decisões de compra em outras organizações, e tome o devido cuidado para evitar ou minimizar quaisquer impactos negativos. (ABNT, 2010, p.52)

Uma das formas de pressão das grandes empresas em cadeias produtivas mais comuns é o uso de critérios e restrições na seleção de fornecedores. O Comitê de Materiais do Centro Brasileiro de Construção Sustentável desenvolveu critérios para a seleção de fornecedores baseados em verificação da formalidade das empresas; existência de licença ambiental; qualidade do produto e respeito às normas técnicas; perfil de responsabilidade social; critérios de ecoeficiência; durabilidade do produto nas condições de projeto.

Em pesquisa realizada por revista especializada, 40% das empresas mostraram agregar mais valor e sustentabilidade ao produto através de mudanças na cadeia de produção. O risco também é repassado ao longo da cadeia. As grandes empresas podem ser e são responsabilizadas caso seus fornecedores estejam envolvidos em quebra de direitos humanos ou escândalos de corrupção. Historicamente, os casos da Nike e da Coca-Cola mostraram como problemas na cadeia podem prejudicar marcas consagradas. Os recentes observatórios sociais estão apontando essas questões e levando conhecimento ao público desses desvios de conduta, abalando a imagem e trazendo prejuízos as marcas de grandes empresas.

Outra forma de pressão que está sendo usada é através de manuais e práticas de setores, estabelecendo selos e normas com critérios de sustentabilidade. O setor de vestuário também possui um selo que regulamenta a produção de roupas no país, criado pela Associação Brasileira do Vestuário, considerando não apenas fatores técnicos como também trabalhistas e relativos a direitos humanos.

Mais recentemente, outras visões estão também sendo colocadas em prática. As grandes empresas estão estabelecendo parcerias com outras organizações do setor, estimulando a inovação e a solução conjunta de problemas.

É fundamental, portanto, que as grandes empresas influenciem suas cadeias e seus setores para a efetividade das políticas de sustentabilidade. Há casos, inclusive, de empresas influenciando governos para normatizar práticas, garantindo a sustentabilidade de seu processo. Um exemplo é a indústria eletrônica, que utiliza minerais cujas minas são controladas por grupos militares ou paramilitares no Congo e em Ruanda. O governo do Congo tem sido pressionado pelas empresas de eletrônicos para adotar medidas de controle e comando para tirar de circulação os minerais ilegais ou “de sangue” e existem medidas de seleção dos fornecedores, desestimulando o comércio paralelo.