Síntese E Encaminhamentos

As sociedades em geral vêm se tornando cada vez mais cientes dessas distorções econômicas e socioambientais e estão criando e organizando diversos fóruns e acordos voltados para a articulação dos agentes constituintes e estruturadores das nações, no sentido de encontrar e encaminhar soluções que projetem outra rota civilizatória.

Resumindo o que vimos nesta parte da contextualização econômica, social e ambiental, é fundamental a compreensão de que essas dimensões estão intimamente intrincadas. Neste sentido, o relatório de 2011 do PNUD sobre o desenvolvimento humano, já mencionado, apresenta três conclusões gerais:

  • As privações ambientais das famílias, como a poluição do ar interior e o acesso inadequado à água potável e melhor saneamento, são mais acentuadas em níveis mais baixos do IDH e diminuem à medida que o IDH aumenta.
  • Os riscos ambientais com efeitos comunitários, como a poluição do ar urbano, parecem crescer e depois diminuir com o desenvolvimento; há quem sugira que essa relação é descrita por uma curva em U invertida.
  • Os riscos ambientais com efeitos globais, designadamente as emissões de gases com efeito de estufa, aumentam com o IDH, geralmente. (PNUD, 2012 )

É fato que as empresas estão assumindo uma corresponsabilidade nesse processo de concertação global, com posturas muito propositivas, ainda que em nível de coerência e efetividade diferenciados.

Percebemos empenhos em diversos acordos, como o Pacto Global da ONU, que possui milhares de organizações signatárias pelo mundo. Um chamado feito em 2000 pelo então Secretário Geral Kofi Annan propôs para as empresas o atendimento aos seguintes princípios4:

Princípios de Direitos Humanos
1. Respeitar e proteger os Direitos Humanos.
2. Impedir violações de Direitos Humanos.

Princípios de Direitos do Trabalho
3. Apoiar a liberdade de associação no trabalho.
4. Abolir o trabalho forçado.
5. Abolir o trabalho infantil.
6. Eliminar a discriminação no ambiente de trabalho.

Princípios de Proteção Ambiental
7. Apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais.
8. Promover a responsabilidade ambiental.
9. Encorajar tecnologias que não agridam o meio ambiente.

Princípio contra a Corrupção
10. Combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina.

A Visão 2050 do WBCSD / CEBDS, documento também já mencionado, apresentou um quadro-resumo com orientações para se realizar os duplos objetivos de desenvolvimento humano (IDH) com baixo impacto ambiental (pegada ecológica, em gha - hectare global), que se encontra reproduzido a seguir. O gráfico 10 evidencia a realidade das nações frente aos dois objetivos.

O WBCSD/CEBDS propõe cinco mudanças fundamentais 5:

1. Investir na visão: aceitar as restrições e as oportunidades de um mundo onde 9 bilhões de pessoas vivam bem dentro dos limites do planeta.
2. Redefinir sucesso e progresso em níveis nacional, corporativo e individual.
3. Obter mais do planeta aumentando a bioprodutividade.
4. Desenvolver soluções para reduzir os impactos ecológicos, mantendo ao mesmo tempo a qualidade de vida dos países que apresentam alto desenvolvimento humano, mas que sobrecarregam a capacidade ecológica.
5. Aumentar o nível de desenvolvimento humano em países abaixo do limiar para alto desenvolvimento humano sem aumentar seu impacto ecológico acima dos limites aceitáveis.

Para a promoção dessas mudanças, ainda são apontados os nove encaminhamentos prioritários:

  • Compreender e lidar com as necessidades de bilhões de pessoas, possibilitando a elas educação e poder econômico, especialmente no caso das mulheres, e desenvolver soluções ambientais e comportamentais bem mais eficientes.
  • Incorporar os custos de externalidades, a começar pelo carbono, os serviços dos ecossistemas e a água.
  • Dobrar a produção agrícola sem aumentar a extensão das terras agricultáveis e o consumo de água.
  • Acabar com o desmatamento e potencializar o rendimento das florestas plantadas.
  • Reduzir à metade as emissões de carbono no planeta, tomando como base os níveis de modelos energéticos de baixa emissão de carbono e de maior eficiência.
  • Possibilitar acesso universal à mobilidade de modelos energéticos com baixa emissão de carbono.
  • Potencializar de quatro a dez vezes a utilização dos recursos e materiais renováveis.

Gráfico 10 – Síntese do desenvolvimento sustentável

Fonte: Visão 2050, 2012.

A fim de melhor esclarecer o significado da pegada ecológica, esse é um conceito desenvolvido para medir a quantidade de recurso que uma determinada pessoa, organização ou nação consome, aferido em hectares globais per capita. De acordo com a WWF (ONG de proteção ambiental fundada em 1961):

Pegada Ecológica de um país, de uma cidade ou de uma pessoa, corresponde ao tamanho das áreas produtivas de terra e de mar, necessárias para gerar produtos, bens e serviços que sustentam determinados estilos de vida. Em outras palavras, a Pegada Ecológica é uma forma de traduzir, em hectares globais (gha), a extensão de território que uma pessoa ou toda uma sociedade 'utiliza', em média, para se sustentar 6.

Para o seu cálculo são considerados os seguintes recursos relacionados ao consumo humano: áreas de cultivo, carbono, pastagens, estoques pesqueiros, florestas e áreas construídas.

Finalmente, é notório que, passada a Rio + 20, Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável em meados 2012, ninguém tem condições de dizer tudo o que ela significou.

Embora se façam diversas críticas sobre os governos finalizarem um documento que se atém às intenções e não estabelece metas concretas, a participação da sociedade, dos prefeitos das maiores metrópoles do mundo e a participação empresarial foi muito diferenciada com relação a Rio 92, em especial, a das empresas brasileiras.

A governança global voltada para a sustentabilidade está amadurecendo, e, já em 2013, novos indicadores serão desenvolvidos para substituírem os dos Objetivos do Milênio com metas estabelecidas para 2015. A maneira de se aferir a riqueza das nações irá além do PIB, incluindo fatores mais abrangentes que integrem as dimensões da sustentabilidade.

Ocorreram quase 700 acordos voluntários envolvendo setores distintos, e, aproximadamente, meio trilhão de dólares investidos em diversas iniciativas voltadas para o desenvolvimento sustentável.

Para o C-40 composto pelas 58 maiores cidades do mundo, que representam 320 milhões de pessoas, 21% do PIB mundial e 14% dos gases de efeito estufa, seus prefeitos estabeleceram os seguintes compromissos: certificação em sustentabilidade de construções educacionais e públicas, iluminação pública feita por luzes de LED, transportes públicos com combustíveis fósseis substituídos.

Não temos condições de falar da história no meio da história, mas sempre convivemos com mundos paralelos, com níveis de desenvolvimento distintos.

Em nossa contemporaneidade, estamos participando da emergência de uma civilização realmente mais conectada, que se depara com questões muito abrangentes, que nenhum país tem condições de resolver sozinho.

De certa maneira, as próximas gerações de cidadãos e líderes já começam a ser cultivadas. A UNESCO, ao definir a década de 2005 a 2014 como a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, sugere a reorientação da formação dos cidadãos em todo o mundo, para que sejam capazes de escolher e promover um modo de vida mais sustentável. Através da sua iniciativa Principles for Responsible Managment Education (PRME), a ONU se volta para as escolas de negócios convocando-as a rever a formação das lideranças empresariais, no sentido de conceber líderes como agentes da transformação global.

O futuro é uma história a ser contada, que se inicia todos os dias...