Introdução

O Centro de Referência em Gestão Responsável para Sustentabilidade (CRGRS)

Em face do esforço de articulação mundial nas últimas três décadas, visando à realização de um desenvolvimento sustentável envolvendo governos, empresas e a sociedade civil organizada, vem surgindo uma série de conceitos e procedimentos disponibilizados no país e no exterior para se promover e aferir o desempenho das organizações em prol da sustentabilidade dos empreendimentos em consonância com a sustentabilidade dos meios socioambientais nos quais estão inseridos.

Considerando-se essa realidade, criamos na Fundação Dom Cabral (FDC), em 2002, um núcleo de conhecimento sobre o assunto, hoje Núcleo Petrobras de Sustentabilidade, e, em 2004, o Centro de Referência em Gestão Responsável para a Sustentabilidade (CRGRS), que congrega um seleto grupo de empresas nacionais e multinacionais de setores distintos. Sua finalidade básica é promover uma postura de gestão nacional que favoreça o movimento da sustentabilidade, adequada às nossas condições e articulada internacionalmente.

O Centro é o “outro lado da moeda” do curso homônimo (Gestão Responsável para Sustentabilidade - GRS), que, desde 2003, vem desenvolvendo lideranças organizacionais em sustentabilidade no Brasil. Há um intercâmbio de conteúdos e experiências entre o organismo do Centro e os participantes e trabalhos desenvolvidos no curso, que se reforçam mutuamente.

Para trazermos uma sensibilidade sobre o “espírito” no qual se deu o nascimento do Centro, transcrevemos trechos do seu documento de constituição:

"Sustentabilidade e Responsabilidade estão entre os temas mais importantes hoje em debate no cenário geral de atuação das empresas. À medida que cresce a conscientização sobre a real situação de desequilíbrio e riscos do planeta e da humanidade, a propensão é que esses temas ganhem ainda mais profundidade e extensão, alcançando novos conteúdos, novos públicos e novos desdobramentos.

A tendência do ambiente de negócios é de pautar-se mais em relacionamentos e networks, com maior presença e circulação de valores (confiança e integridade). Em outras palavras, a previsão é de um futuro de crescente densidade ética e, portanto, fértil para posturas responsáveis.

Portanto, faz sentido considerar a progressiva dimensão que Sustentabilidade e Responsabilidade vêm ocupando nas empresas. Esses temas têm se encaminhado permanentemente para um alinhamento estratégico com os negócios empresariais, com repercussões já palpáveis na reputação das organizações, nas relações com os governos, na economia de custos, na capacidade de contratar e reter talentos, na prevenção de riscos e no potencial de inovação e aprendizado.

O sucesso depende de uma gestão empresarial voltada para a sustentabilidade e que busque o equilíbrio nos resultados da empresa no que condiz às demandas das pessoas que para ela trabalham, e de outras organizações, não somente as atuantes no mercado como também as representativas dos interesses da sociedade e do meio ambiente. A Gestão Responsável de uma empresa é aquela gestão que busca o equilíbrio em todas as relações da empresa e que, por conseguinte, promove a sustentação da vida. Empresas que querem ter um comportamento responsável frente a seus empregados, ao mercado, à sociedade e ao planeta enfrentam o grande desafio de fazer com que o conjunto de ações de todos seus colaboradores resulte positivo com relação à sustentabilidade de todos.”

Inspirados por esse enfoque de responsabilidade na gestão, a missão estabelecida para o Centro foi:

“Promover o desenvolvimento sustentável, através da concepção de posturas nacionais de GRS, articuladas internacionalmente”.

Entendemos que os principais dilemas globais contemporâneos exigem a revisão dos processos de gestão organizacional, o que faz da pesquisa e do intercâmbio de conteúdos fundamentais para uma leitura mais acurada do contexto e disseminação de tecnologias de gestão, que promovam a efetividade dos negócios e a sustentabilidade dos meios em que estão inseridos.

A produção de conhecimento no Centro envolve a identificação das principais questões emergentes do esforço pelo desenvolvimento sustentável relacionadas aos indivíduos, ao mercado, à sociedade e ao meio ambiente, e a compreensão de suas interferências nas funções empresariais básicas e consequentes práticas gerenciais.

Para a definição dos temas de pesquisa-ação (metodologia voltada para aplicação), são escolhidos, juntamente com as empresas-membro, aqueles mais relevantes para investigação, de acordo com o contexto mundial e o momento em que elas se encontram.

Em geral, utilizamos os seguintes critérios como direcionadores da seleção dos temas para estudo:

  • Realidade das empresas-membro como amostra de organizações atuantes no Brasil.
  • Universalidade do tema, podendo atender a qualquer organização.
  • Possibilidade de obtenção de resultados práticos.
  • Produção de conhecimento que possa agregar ao país como um todo.
  • Produção de conhecimento que possa agregar ao mundo.

Ao longo da nossa história, convivemos com mudanças nos ambientes externos e internos das empresas-membro, que interagiram com os movimentos econômicos e socioambientais dos mercados em que estavam e estão inseridas. Vimos diversos processos de aquisição, crises e sucessos em vários mercados, que encaminharam o Centro como um projeto “dois em um”, em que as empresas participam tanto da sua confecção como também do desenvolvimento das suas atividades de pesquisa.

Então, estão impressas nestas páginas boa parte da nossa trajetória de compreensão do movimento da sustentabilidade e das pertinentes inquietudes e expectativas das lideranças, bem como das necessidades de adequação da gestão às exigências do que se entende como uma consequente responsabilidade corporativa.

Foram diversas publicações, aplicações, apresentações em eventos nacionais e internacionais para disseminar nosso aprendizado, além de interações institucionais, tais como as iniciativas da ONU Global Compact, voltado para as empresas, e o Principles for Responsible Management Education (PRME), que envolve a adequação das academias no mundo às premissas da sustentabilidade.

Quanto ao título: Sustentabilidade e Poder nas Organizações

Após o levantamento de uma série de focos de gestão alternativos para serem investigados com as empresas do Centro, a utilização dos critérios relacionados anteriormente revelou como objetos fundamentais para as primeiras pesquisas os temas: Educação de Lideranças para a Sustentabilidade (ELS); Sustentabilidade e Governança Corporativa (SGC); Sustentabilidade e Planejamento Estratégico (SPE) e Sustentabilidade e Gestão de Pessoas (SGP).

Percebemos que tais orientações não apareceram por acaso. Como somos resultado de um processo educacional e considerando-se o peso que as lideranças detêm frente à condução das expectativas de qualquer comunidade, podemos entender como muito natural o surgimento desses temas frente ao movimento da sustentabilidade, que não é recente, mas que ganhou um novo ímpeto nas últimas décadas.

Um posicionamento claro e objetivo sobre a adequação da cultura organizacional à sustentabilidade, a orientação para confecção de políticas, estratégias, projetos de inovação e adequação das operações, a criação de pontes para diálogo com as diversas partes interessadas corresponsáveis pela “saúde” dos empreendimentos e sociedades, dentre outras iniciativas, são atribuições de elevada complexidade e que tornam imprescindível o exercício de uma “liderança consciente”, “construtora de nações”, um “agente da transformação global”.

O conteúdo do texto e sua utilização

Em síntese, a concepção orgânica básica de atuação do Centro aborda três dimensões que caracterizam biossistemas: temas emergentes (“leitura” das tendências do movimento), produção de conhecimento (desenvolvimento de conteúdo para adequação de uma gestão responsável para sustentabilidade) e identificação de oásis (investigação sobre onde o futuro já estaria acontecendo). Temos, aqui, dimensões essenciais presentes em organismos que são um senso de direção natural, conhecimento para se potencializar e, efetivamente, caminhar na direção esperada, fazendo sua história, dentro de um contexto ambiental.

Ao integrarmos os conceitos de “comunidade de sentido”, “comunidade de conhecimento” e “comunidade de prática”, de acordo com as dimensões de biossistemas mencionadas, emerge o conceito de “comunidade de desenvolvimento”. Entendemos que, para ocorrer o desenvolvimento de uma comunidade e/ou sociedade, há que se cultivar “comunidades de desenvolvimento”. Estas são núcleos, verdadeiros portais de se fazer futuros desejados acontecerem.

Posto isto, o texto por meio do qual estamos interagindo com você, leitor, é um retrato do Centro e está estruturado em quatro capítulos e anexos, que abordam:

  • Capítulo I: Contextualização – nesta parte encontramos uma atualização de exemplos de desequilíbrios econômicos e socioambientais, nomeando documentos contemporâneos muito relevantes que devem ser conhecidos pelos líderes organizacionais.
  • Capítulo II: Temas Emergentes – após entrevistas individuais e reflexões em grupo, os executivos responsáveis pela sustentabilidade nas empresas participantes do Centro elegeram temas que consideram de importância estratégica para as organizações. Neste capítulo estão disponibilizados os resultados dos levantamentos que fizemos para a compreensão dos mesmos.
  • Capítulo III: Sustentabilidade, Poder e Funções Organizacionais – aqui tratamos dos nossos enfoques conceituais, as “pautas” para conversa da sustentabilidade com as principais funções organizacionais relacionadas ao poder e formas de avaliação, além de procedimentos para dar concretude à ISO 26000 (norma de diretrizes de responsabilidade social).
  • Capítulo IV – junto às empresas-membro, levantamos possibilidades de práticas que poderiam ser consideradas referenciais e, em consenso, elencamos experiências que deveriam ser compartilhadas com outras lideranças e organizações. É a dimensão do oásis do Centro, onde encontramos o exercício do futuro hoje.
  • Anexos – contêm, fundamentalmente, informações de suporte à gestão responsável, instrumentos que permitem avaliar o nível de sofisticação da adequação das funções organizacionais e das empresas à sustentabilidade, além de disponibilizar uma tabela de indicadores que, ao serem selecionados, identificam quais normas e sistemas a organização estaria atendendo.

Este conteúdo foi confeccionado numa “simbiose” entre as vivências dos integrantes do Centro, misturando-se ainda aos diversos movimentos da sustentabilidade que vinham ocorrendo no país e no mundo. Mantivemos um olhar atento ao ambiente externo global, extremamente dinâmico devido aos anos de 2011 e 2012 terem sido muito significativos para os nossos temas de interesse. Nesse período vimos o estabelecimento da norma internacional de responsabilidade social ISO 26000 (acompanhamos por cinco anos sua confecção) e a elaboração de diversos documentos preparatórios e resultantes da Rio + 20, Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável. Concomitantemente a esse olhar externo, fomos identificando e documentando os “oásis”, avaliando o nível de concretude da ISO 26000, participando de e organizando eventos afins, fazendo articulações institucionais e atividades de mobilização no sentido de auxiliarmos o posicionamento estratégico de empresas atuantes no Brasil, além de darmos suporte a dilemas específicos das empresas-membro e seus representantes. Todas essas iniciativas se alimentaram mutuamente e, na prática, as informações atualizadas se consolidaram no último trimestre de 2012.

Para o uso deste documento, pode-se fazer uma leitura completa do texto, a fim de se ter um panorama geral do movimento da sustentabilidade e adequação da gestão das organizações, bem como, consultá-lo como um compêndio para obtenção de informações específicas, pertinentes a cada um dos capítulos e anexos. Por esse motivo, as referências utilizadas em diversas partes como fontes de conhecimento são mencionadas reiteradamente.

De qualquer maneira, que tenhamos um bom “diálogo”! Procurando evitar uma linguagem acadêmica, a intenção do Centro e de suas empresas-membro é e será nos auxiliarmos na adequação de nossas organizações a uma gestão responsável para sustentabilidade. Com certeza, um desafio histórico que contém um consenso: a convicção de que nenhum líder ou empresa conseguirá sozinho.